Com Ciência, vamos vencer a pandemia: professores da UEPG esclarecem variantes do coronavírus

Compartilhe

As novas variantes do coronavírus (Sars-CoV-2) geram preocupação e dúvidas. Em todo o mundo, cientistas investigam os impactos dessas mutações na eficácia das vacinas, capacidade de transmissão e no agravamento dos casos de Covid-19. A UEPG traz, como parte da campanha “Com Ciência, vamos vencer a pandemia”, explicações de professores sobre as variantes.

O surgimento de variantes em vírus é comum – em todo o mundo, já foram detectadas cerca de mil variantes do coronavírus. No entanto, há um conceito chamado “variante de preocupação“ (Variant of Concern ou VOC, na sigla em inglês), que qualifica os vírus modificados como cepas potencialmente mais perigosas ou mais transmissíveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica três principais variantes de atenção do coronavírus em circulação no mundo: a do Reino Unido (B. 1.1.7), da África do Sul (B. 1.351) e a do Brasil/Amazônica (P. 1).

O professor Marcos Pileggi, doutor em Genética e professor do departamento de Biologia da UEPG, explica que mutações são comuns em vírus. “É uma coisa esperada, mesmo. Esses vírus de RNA, como o coronavírus ou a influenza, têm taxa de mutação maior”, aponta. Mas o professor faz uma ressalva: a questão mais importante, no caso do Sars-CoV-2, não é somente a taxa de mutação, mas também a possibilidade de recombinação, além da quantidade de vírus liberados por cada hospedeiro.

A recombinação é a possibilidade de modificar o material genético do vírus a partir de uma mutação. O professor Pileggi conta que foi assim que surgiu o novo coronavírus: “Quando você tem esses mercados molhados na China, por exemplo, o que acontece? Tem animais diferentes no mesmo ambiente e eles podem estar vivos ou recentemente mortos. Diferentes tipos de vírus podem infectar células desses animais, e aí você vai ter uma única célula podendo conter dois tipos diferentes de material genético de vírus, de linhagens diferentes e aí eles podem recombinar”, assinala. “Tanto eventos de mutação como eventos de recombinação podem dar essa diversidade de vírus que a gente tem por aí, e é absolutamente normal isso, é biologicamente esperado”.

“As mutações são alterações no código genético dos vírus que aparecem durante seu processo de multiplicação, ou seja, quando fazem cópias de si mesmos. Essas alterações podem ser consideradas “erros”, sendo que a maioria delas são irrelevantes e até mesmo prejudiciais à sobrevivência do vírus. No entanto, outras podem trazer alguns benefícios a esses microrganismos, como melhor capacidade de sobrevivência e adaptação no ambiente, maior potencial de transmissão ou ainda formas de escapar da nossa resposta imune”, esclarece a professora Elisangela Gueiber Montes, do Departamento de Farmácia da UEPG. Como sobrevivem melhor e infectam mais pessoas, essas variantes acabam ganhando espaço, até predominar em um ambiente.

Para reconhecer uma mutação como uma nova variante do vírus, é preciso que haja diferenças na fisiologia, além do sequenciamento genético. “Essa diferença, em termos de fisiologia, é a variante ser mais agressiva, menos agressiva, ser sensível a determinado tipo de anticorpo, etc”, destaca Pileggi. Portanto, as diferenças identificadas no sequenciamento genético precisam trazer diferenças na prática, na forma de infectar, na transmissibilidade ou na gravidade dos casos, para gerar novas variantes.

Quanto às vacinas contra a Covid-19, as empresas farmacêuticas estão fazendo testes de eficácia de seus imunizantes frente às novas variantes. “Em relação à detectada no Reino Unido, estudos preliminares mostraram uma eficácia muito próxima àquela apresentada frente as cepas utilizadas durante os testes de fase 3. No entanto, em relação a variante da África do Sul, os testes iniciais já realizados por alguns dos fabricantes mostraram diminuição da eficácia global destas vacinas, mas parecem ainda conferir proteção contra as formas mais graves da doença. Estas variações podem acontecer em função de cada diferente tipo de vacina e no princípio de seu desenvolvimento, podendo ser possível que alguns imunizantes tenham melhor desempenho contra elas”, explica Elisangela. A professora complementa ainda que as empresas ainda testam a eficácia quanto à variante brasileira (P1), mas resultados preliminares apontam que houve eficácia dos imunizantes das empresas AztraZeneca, Pfizer/Biontech e Sinovac (Coronavac) frente a essa variante.

A preocupação, como enfatiza a professora, é com o agravamento da pandemia advindo da rápida disseminação destas variantes mais contagiosas pelo Brasil e pelo mundo. “Nessas situações, com o maior número de pessoas infectadas e precisando de atendimento hospitalar, ocorre a saturação do sistema de saúde”, assinala. “Para nos prevenirmos destas e de outras novas variantes, precisamos do maior número de pessoas vacinadas dentro do menor tempo possível e a diminuição da circulação de pessoas contaminadas em ambientes comuns. Também é muito importante que continuemos tomando os outros cuidados que já vínhamos tendo até agora, ou seja, lavagem constante das mãos, uso de máscaras e distanciamento social”. A professora Elisangela finaliza com um alerta: “Caso não tenhamos formas eficazes de contenção da circulação do vírus, o aparecimento de novas variantes vai se tornar ainda mais frequente, podendo culminar em algumas delas ainda mais letais e futuramente resistentes às vacinas”.

Proposta por membros do Conselho de Administração da UEPG, a campanha “Com Ciência, vamos vencer a pandemia” traz assuntos que fazem toda a diferença no combate à pandemia de Covid-19. Como os temas abordados são alvo frequente de notícias falsas, as publicações nas redes sociais da UEPG (FacebookInstagram e Twitter) trazem fontes confiáveis e informações seguras divulgadas em estudos científicos ou por órgãos reguladores.

Texto e foto: Aline Jasper

 

Confira o áudio do Professor Marcos Pileggi sobre o tema: 


Compartilhe

 

Skip to content