A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por meio da Fundação Araucária, realizou em julho um projeto que busca promover e pesquisar a saúde única, com coleta de exames de sangue dos servidores e animais dos parques estaduais, para fazer uma análise de zoonoses. O projeto acontece há mais de um ano e percorre parques do Paraná, em parceria com Universidades do Estado, pesquisadores e estudantes internacionais. As coletas foram realizadas em Foz do Iguaçu, para os funcionários e servidores do Parque Nacional do Iguaçu; na comunidade indígena Ocoy em São Miguel do Iguaçu, com dois dias de coleta de mais de 200 adultos e 100 cães; e Cascavel, nos servidores do Instituto Água e Terra (IAT).
Zoonoses são doenças infecciosas transmitidas para pessoas, por meio meio do contato direto com animais, alimentos, água ou meio ambiente. As doenças podem ser bacterianas, virais ou parasitárias. “O projeto da UEPG é basicamente relacionando aos Parques, porém, como o grupo é grande, estamos participando de outros projetos, com aldeias indígenas, que também analisa a saúde única; com animais domésticos das aldeias e os moradores; e com coleta de sangue”, explica Giovani Fávero, coordenador do projeto da UEPG. As atividades contam com participação de servidores do Hospital Universitário da UEPG e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. “Além da coleta de sangue, também trabalhamos com os cães fazendo análise de vermes e parasitas, dando vacina, além de antiparasitário”, adiciona.
A equipe realizou análise da relação do terreno com os animais. “O projeto foi ganhando força, há um grande interesse de que se tenha continuidade do projeto em outros Parques do Estado, estamos conversando para trabalhar nisso”, salienta Giovani. Dentro do mesmo projeto, a equipe também realiza coleta de sangue dos servidores do Instituto Água e Terra (IAT), com análise de zoonoses dos animais. “Então é um projeto que tem crescido, além do inicial, com uma parceria grande entre as Universidades”, completa.
Cooperação internacional
A viagem para as cidades do oeste do Paraná teve presença de estudantes e professores da Universidade de Purdue, dos Estados Unidos. “O objetivo da cooperação é trazer as veterinárias dos EUA pra mostrar a elas outros papeis que a veterinária pode ter, incluindo saúde pública, conservação da natureza, fauna e flora silvestre e parte de zoonoses”, explica a professora Andrea Pires dos Santos, professora e pesquisadora da Universidade de Purdue.
No total, foram oito alunas de veterinária, além de um pesquisador do Departamento de Agricultura, que participaram do projeto. “Somos um grupo bem heterogêneo, cada estudante com seus interesses de pesquisa, mas todos vêm para entender melhor do papel do veterinário na sociedade”, destaca Andreia. Desafios presentes no Brasil são diferentes da realidade a qual os alunos estão acostumados, segundo a professora. “Às vezes a veterinária é muito voltada para clínica, então a gente traz os estudantes aqui para entenderem um pouco da cultura, fauna e flora brasileiras”.
A aluna norte-americana Faith Kensley conta que, já nos primeiros dias no Brasil, conseguiu conhecer um pouco das belezas naturais e da vida dos animais selvagens. “Visitamos uma comunidade indígena, vacinamos as pessoas, demos vermífugos aos cães e ajudamos na coleta de sangue para testar algumas doenças infecciosas”. A expectativa da estudante de Michigan é ganhar experiência. “Quero aprender muito sobre a vida selvagem brasileira e sobre que papel a gente pode desempenhar na veterinária quando voltarmos para os Estados Unidos”.
O aprendizado também é o foco de Stephan Niverkilen, da Universidade de Purdue. “Vir aqui significa aprender muito mais sobre culturas diferentes e abrir meus horizontes para o fato de que há muito mais do que existe na América (EUA) e com o que eu estou acostumada”, ressalta. A estudante Malaycia Goldsmith salienta que no Brasil há espécies de animais diferentes do que ela estuda nos Estados Unidos. “Hoje mesmo foi um dia que abriu meus olhos sobre como o trabalho como veterinária pode ser visto em áreas como essa, de uma comunidade indígena – ajudando a equipe, os animais e os indígenas. Então eu acho que no geral essa experiência tem me ajudado a construir uma perspectiva maior”, completa.
Para a professora Andreia, o intercâmbio de conhecimentos foi extremamente valioso para todos os participantes. “Não seria possível fazer um projeto tão grande se não tivesse uma equipe multidisciplinar. Nosso foco é em saúde única, temos que prestar atenção nos humanos e nos animais, e quanto mais áreas juntas, mais rico o trabalho fica e todo mundo aprende”, finaliza.
Texto: Jéssica Natal | Fotos: Fábio Ansolin